terça-feira, 14 de julho de 2009

Conclusões das "Conversas sobre o Futuro": Inovação com Professor Jorge Alves e Professor Pedro Vilarinho

Quando se fala em Inovação é importante desfazer o chavão e ir de encontro à simplicidade do seu conceito. Resumindo, Inovação é fazer o que os outros não fazem. Como posicionar Aveiro como um centro inovador e como lhe conferir a diferença?

A forma mais simples é conhecer o que os outros já fizeram e que resultados estão a ter. Um dos exemplos de política de inovação, os Parques Tecnológicos, já não são inovadores, dado que existem muitos casos de empresas com um grau muito elevado de processos inovadores que não se conseguem estabelecer na maioria dos Parques Tecnológicos que não têm a vocação para receber as empresas realmente inovadoras ou não têm aquilo que elas realmente precisam.

Para uma cidade poder tirar partido da Inovação, importa reter as seguintes componentes:

-       Recursos Humanos: fixar nos recursos humanos, pensar em formas de atrair pessoas altamente qualificadas (Estados Unidos) e possibilitar um melhor acesso aos mercados (internacionalização). 

Aveiro é centro de excelência no que toca a posição geo-estratégica e infra-estruturas. Como se põe tudo isto a funcionar?

A aposta em clusters focando em áreas específicas em que realmente Aveiro é muito bom a produzir, criar e criar valor acrescentado (exemplo: cluster no software na UMinho tem criado empresas de Lisboa a Braga, encontrar empresas ligadas à UMinho e juntar as pessoas em volta desse cluster que entretanto foi tornado centro de excelência e agora associação sem fins lucrativas. Começaram com 6 empresas, muito bem seleecionadas. Empresas ricas nos respectivos mercados e liderantes em todos esses mercados e pequenas estrelas (jovens empresas) apoiadas no processo de internacionalização (uma das pequenas empresas foi vendida à Microsoft).

Definir qual o segmento de mercado que somos mesmo excepcionais é uma pergunta essencial para quem quererá tornar uma região mais competitiva com base na Inovação.

A desmaterialização de transacções = foco do cluster (hoje tem 24 empresas) seleccionados 4 projectos onde realmente se pode ser competitivo) está a atrair para a região de Braga um conjunto de outras empresas e recursos altamente qualificados. As empresas-base puxam pelas empresas mais pequenas que a circundam, é importante chamar no período inicial empresas de grande dimensão que arrastem outras e que façam nascer outras.

-       Outra componente: criação de empresas de base tecnológica (COTEC: está a desenvolver projecto com 2 empresas deste tipo)

 Capacidade em atrair e reter recursos humanos altamente qualificados, puxar estas empresas é extremamente importante para desenvolver um sistema de inovação numa determinada região. As pessoas altamente qualificadas só se estabelecem numa cidade quando ela oferece infra-estruturas de trabalho de nível elevado, áreas residenciais de qualidade, uma cidade com grande mobilidade e com ofertas comerciais, culturais e de serviços mais sofisticados. Em Aveiro é possível criar estas condições para trazer estes recursos humanos e é aí que uma autarquia pode mexer.

Existem componentes que estão ao alcance de uma cidade e outros que não, quando se fala em desenvolvimento criado a partir de sistemas de Inovação. Cidades e Inovação são explicadas através de um quadro sistémico, onde é necessário compreender as limitações que um Município pode ter quando se cogita uma politica baseada na Inovação (um exemplo são limitações na ordem das competências, como orientações e politicas comunitárias). É bom ter sempre esta ideia de que uma autarquia não pode fazer tudo se quiser contemplar uma politica de inovação.

Componente Organismos que estão presentes no território (CM, Escolas, Sindicatos, Empresas, Bancos) = sistema de inovação, capacidade de intervir na inovação é limitada. É necessário que hajam maiores convenções de âmbito cultural que promovam a inovação (regras de jogo podem ser desajustados). As convenções no fundo é a mentalidade do risco, de querer rumar ao desconhecido e sobretudo não deitar abaixo uma ideia inovadora quando esta obtém insucesso. Para uma politica efectiva de Inovação, para um Município poder criar um sistema de inovação é necessário criar condições para mudar o raciocínio atávico que premeia o sucesso e desacredita o insucesso, falhar é uma característica essencial de um sistema de inovação, porque se ruma ao desconhecido e uma grande ideia pode falhar muitas vezes. Inovação é risco, a probabilidade do falhanço é forte e uma convenção cultural atávica (mentalidade baseada exclusivamente no sucesso) pode bloquear uma politica assente nos pressupostos da inovação.

A criatividade é a capacidade de se fazer raciocínios sem recorrer ao património educacional que se obteve. Processo educativo não incentiva a criatividade, porque nos dá a solução. Ser criativo é ir alem do que já se aprendeu e não tornar mimética a resolução de problemas. Solucionar problemas sem usar a solução já experimentada. E podem ser os problemas do dia-à-dia das pessoas, pode não ser uma grande cãoenção tecnológica, apenas uma solução de um problema quotidiano.

Uma cidade pode contrariar esta tendência, da mentalidade atávica? Uma cidade pode ser original e criativa. Ser diferente, ser ousada. A anormalidade no inicio do século XX em Barcelona é hoje a sua normalidade e a sua geneliadade. Desenvolver e por em prática uma ideia que no presente é inconcebível é o espírito de uma cidade com mentalidade inovadora, capaz de criar mais riqueza. A Universidade de Aveiro é um caso prático deste pensamento, há 20 anos era uma Universidade de uma cidade afastada dos grandes centros, hoje é um centro de referencia.

Como é que Aveiro é inovador? São necessárias infra-estruturas, mas sem mudança da mentalidade das pessoas é impossível criar um concelho inovador. São as pessoas que  fazem de Aveiro inovador ou não. É um fenómeno epidémico, necessita de massa critica. É necessário criar as condições para que este rastilho pegue. Há um sistema estabelecido (pressuposto que se parte), é importante começar a fazer infra-estruturas e a criar condições para que a criatividade surja. Se se for criativo, é possível encontrar as pessoas que se pode partilhar ideias e de quem tem iniciativa. Um líder concelhio pode tornar possível e dar as condições para que elas se juntem. 

Criar um espírito criativo e inovador

Clusters: que tipo de áreas Aveiro podia ser inovadora?

É necessário seleccionar uma área onde as grandes empresas mundiais estão a investir (computação molecular, por exemplo), estabelecer um portfolio de coisas que estão a acontecer e que Aveiro pode oferecer e competências que estão a ser geradas na região em relação ao que vem da Universidade e dos Politécnicos.

Fazer o que os outros não são capazes de fazer. Inovação não é só economia. Aveiro foi extremamente inovador com as Bugas.  Esta ideia pode ser extendida a outros domínios criativos, é necessário dar respostas alternativas a problemas comuns das pessoas. Poderia ser uma grande inovação conseguir interagir com outros municpios limítrofes. É necessário ser criativo com as contas da Câmara, era possível por exemplo fazer um bom negocio com a marca Bugas e dar o proveito e uso às pessoas. 

Aveiro tem tecnologia e tem sistemas de inovação mas... falta a mentalidade criativa e inovadora. Por isso, temos uma ria, temos gastronomia, temos tecnologia (electrónica e computadores) e podemos investir e encontrar áreas inovadoras com grandes margens de lucro e com grande capacidade distributiva pela população como os produtos e áreas tradicionais.

Movimento AdoroAveiro

 

1 comentário:

  1. Não posso deixar de concordar que a Inovação é, provavelmente, a principal receita para um desenvolvimento sustentável, incluindo todas as suas vertentes.

    Se a COTEC apoiou o desenvolvimento do CEDT, referido, não podemos ignorar - embora com várias percalços, nomeadamente o eterno egocentrismo das empresas e instituições da região - que Aveiro teve o seu próprio Centro de Excelência (o TeleSal) numa área onde dá cartas ao nível nacional e internacional, suportando um cluster efectivo existente e que movimenta bem mais que 24 empresas, algumas de grande expressão nacional e internacional (Nokia Siemens, Ericsson, PT Inovação), mas sobretudo um conjunto de PMEs que mostram saber trabalhar em parceria e que estão cá para aceitar desafios e novos horizontes.

    Não sou contra procurar novas áreas, diferenciadoras talvez por muito emergentes. Isso era matar o próprio espírito criativo que leva à inovação e à diferenciação, mas inovar é também procurar novas formas de explorar potenciais e recursos existentes.

    No entanto para que os próprios Aveirenses saibam o que cá se faz, Aveiro tem mesmo que procurar re-ganhar alguma da visibilidade perdida, porque são muitas coisas surpreendemente boas e simples que por cá se fazem.

    Não falta mentalidade criativa, não falta mentalidade inovadora - falta sim, qualificar empreendedores e recursos.

    Falta fornecer aos empresários - muitos empurrados para essa via e sem particular apetência para o risco e para a abertura de portas - como gerir e como potenciar a expansão das suas empresas, dando-lhes visibilidade, internacionalizando-as e fazendo passar-lhes os desafios da I&D dentro de casa, mas sempre que possível, com ligação aos centros de saber.

    É também preciso abrir esses centros de saber, muitas vezes altivos e ainda mais egocêntricos que as próprias empresas!
    É preciso adequar currículos, promover a colaboração tão cedo quanto possível no processo educativo com as empresas e um feedback permanente, tão importante para as Universidades como a Vigilância Tecnológica e de Mercado para as empresas!

    É preciso olhar para a Administração Local e Regional como potenciais parceiros destas empresas, fazendo o que se pode fazer sem ferir as regras da concorrência, promovendo a cooperação entre público e privado e, sempre que possível, transformando as urbes em Living Labs do que a própria região sabe fazer.

    Inovar é também transportar para os espaços públicos os produtos, os serviços, as ideias e as soluções de empresas e das Universidades, para que possam ser validadas e usufruídas em ambientes reais.

    Mas, também é preciso inovar na forma olhar para o crescente número de desempregados com habilitações superiores - ou os mascarados que ocupam uma profissão digna mas que não corresponde às suas expectativas!

    Se um cluster, se um grupo de Pequenas Empresas se mostra ávido por crescer como as TICE - aliás, mérito de Aveiro em garantir em si a promoção do Pólo de Competitividade e a sua gestão inicial - e os Recursos Qualificados não abundam, porque não procurar nos centros de saber, forma de re-orientar esse desemprego para um novo rumo, inovando na forma de lidar com o desemprego, pedindo o apoio na re-qualificação a quem o sabe fazer, mas envolvendo os mecanismos de apoio ao emprego e as empresas na solução para estas pessoas?

    Porque não usar subsídios de apoio ao emprego que permitam enquadrar pessoas re-qualificados (com aumento ou não no nível de qualificação), em lugar de pagar subsídios de desemprego ou promover um desenfreado empreendorismo sem garantir a formação necessária aos empreendores?

    Inovar é solução para muitos dos nossos problemas de desenvolvimento; inovar é a respota para a crise. Para inovar é preciso saber OLHAR e só depois CRIAR. Inovar é, normalmente, descobrir o Ovo de Colombo, as soluções verdadeiramente inovadoras são normalmente surpreendemente simples.

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